Imunização de rebanho é genocídio

11/06/2020

Quanto à possibilidade da volta ao trabalho presencial, nas atividades de fato não essenciais, mesmo com restrições, gostaria de me posicionar. Na minha opinião, é uma derrota suicida, capitulação diante do genocídio planejado pelo governo federal. Estatísticos sérios que elaboram estimativas da pandemia nos estados brasileiros sustentam que a retomada é uma verdadeira ida em massa para o abatedouro, e está perfeitamente de acordo com planos do governo federal que resultarão na morte de 1,5 milhão de pessoas.

Pela falta de solidariedade organizada, empresários e instituições não resistiram à crise econômica e pressionaram Executivos e Legislativos estaduais e municipais na direção da retomada. Houvesse essa organização solidária, estimulando/pressionando grandes empresas, detentores de grandes fortunas e instituições públicas a garantir as necessidades básicas da população, não seria permitido o genocídio que está sendo liderado pelo presidente do país. 

O genocídio se realizará por meio da busca da abjeta "imunização de rebanho". Na veterinária isso é garantido quando um número alto de animais de determinado rebanho é vacinado, evitando assim a circulação de um vírus. A diferença é que não há vacina contra a Covid-19. Assim, essa "imunidade de rebanho" só será alcançada com muitas pessoas infectadas e um número lamentável de mortes (volto aqui aos estatísticos que falam de 1,5 milhão, caso se siga com a flexibilização do isolamento sem embasamento sanitário e contrariando às orientações da OMS).

São mortes que poderiam ser evitadas com o isolamento social prolongado até os índices de contágio diminuírem. Isso só ocorrerá, logicamente, bem depois de chegarmos ao pico da pandemia, o que ainda não ocorreu. Infelizmente, isso não é percebido pelos que defendem esse caminho porque é predominante a visão de que a economia é mais importante que a vida.

E por que é possível, pela estratégia do governo federal, abrir mão da vida de mais de 1 milhão de pessoas? É possível - por isso o termo genocídio cabe perfeitamente aqui - porque a esmagadora maioria dos mortos serão idosos, dependentes da previdência pública, pobres - consumidores inválidos para o mercado - e os dependentes de benefícios sociais.

A pandemia ajuda a política econômica excludente do ministro Guedes: morrerão as pessoas que, não mais pesando para o governo, garantirão, ao custo das próprias vidas, o "equilíbrio" das contas. Assim sobra dinheiro público para irrigar interesses elitistas internos e dos países ricos. Isso leva o nome de necropolítica, a política de escolha de quem deve morrer.

Também profissionais de alto nível da área da saúde, que participam de comissões organizadoras da retomada em diversas instituições, afirmam que os cuidados para evitar minimamente o contágio são tantos a ponto de não existirem, hoje, praticamente em nenhum local de trabalho público ou privado. Esses cuidados vão da testagem dos trabalhadores e do distanciamento adequado entre eles, à quantidade suficiente de produtos de higienização, passando pela organização de rotinas laborais, entre outros.

Agora seria, sim, a hora de realizar esses preparativos, que se implementariam minimamente nos próximos dois meses quando, se mantido o nível atual de isolamento social, o país já estaria atingindo o pico dos casos e mortes, e possivelmente, a curva estaria caindo. Infelizmente, essa atitude por iniciativa federal e capitulações estaduais e municipais parece não estar sendo tomada. Estamos no início de um genocídio. Mas é preciso ter esperança e lutar. As grandes tragédias da história recente da humanidade, como a escravidão dos africanos, o holocausto nazista e o genocídio stalinista aconteceram, e outras tragédias ainda prosseguem - basta pensar nos efeitos da escravidão para os negros - porque muitos justos se calaram e se calam. 

Junte-se a mim. Vamos tentar concretamente impedir de forma legal e pacífica o fim do isolamento social e a retomada imediata das atividades não essenciais.