Campanha "orgulho de ser jornalista" será lançada nas redes
Ação foi decidida durante encontro do Enprojor que abordou estratégias discursivas pró e contra os trabalhadores
Jornalistas precisam de um discurso estratégico com autoestima profissional para resgatarem a profissão. Essa foi a conclusão do oitavo encontro on-line do Projeto Enfrentamento da Crise da Profissão de Jornalista (Enprojor), realizado na última quinta-feira (24). No encontro nasceu a ideia de lançar nas redes sociais uma campanha com a hashtag #orgulhodeserjornalista, a partir desta quarta-feira (30).
Um dos integrantes do Enprojor, Bruno Pirozi acredita que não basta reclamar da não exigência do diploma. "Poderíamos estar mais unidos e empoderados com o empreendedorismo. Mas embora seja possível, não podemos romantizar o excesso de trabalho que esse caminho exige", afirmou Bruno, que é servidor público da Assessoria de Comunicação e Tecnologia da Informação (Ascomti) de Rio das Ostras (RJ) e toca sete assessorias como autônomo. Ele critica o que diz ser um discurso preconceituoso com a prática empreendedora.
O coordenador do Enprojor, Marcello Riella Benites, da Assessoria de Comunicação da Câmara Municipal de Macaé (RJ), defende um discurso combativo que una profissionais empreendedores, servidores públicos e da mídia convencional. Segundo ele, é preciso se unir para combater o discurso dos "dominantes" contra os jornalistas.
Discurso contra os jornalistas
Segundo Marcello, um desses "dominantes" é professor da USP, ex-diretor no jornal que mais influenciou na queda da exigência do diploma. Ele escreveu um artigo sobre a crise na imprensa, que foi analisado por Benites.
"Nas primeiras dez páginas, a palavra jornalismo aparece 42 vezes, e jornalista apenas dez. Quer salvar o jornalismo sem os jornalistas. Em seu site há um artigo contra a exigência do diploma. Imagine um cara que formou muitos estudantes numa das principais escolas de jornalismo inoculando neles essa baixa estima", analisou Benites.
O Enprojor é ligado a uma pesquisa acadêmica no Programa de Pós-graduação em Cognição e Linguagem da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (PGCL/Uenf, de Campos dos Goytacazes-RJ), e envolve mais de 100 jornalistas em todo o Brasil. A partir da disciplina Análise do Discurso, o projeto considera que "falar é fazer" e que são os discursos que criam, mantêm e podem transformar tudo o que existe na sociedade.
Discurso num mundo em transformação
"Nós nunca fomos uma categoria unida e parece que engolimos esse discurso das empresas", continuou Regina Luz Vieira, doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e editora do jornal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.
Alexandre Trápaga, da Fundação Rio das Ostras de Cultura, não aceita um discurso em que colegas sem canudo possam ser considerados jornalistas. "Se aceitarmos, como podemos dizer que o diploma nos diferencia de quem não fez uma graduação?", questionou.
A jornalista Ana Cristina Hermano, também da Ascomti, destacou que um discurso estratégico seria o que responderia à pergunta: "Como nós, como categoria, podemos garantir o nosso espaço nesse mundo em transformação?".
Orgulho de ser jornalista
"O jornalista não se vê como um trabalhador da notícia, que é o que ele é, com patrões que o exploram. Assim as instituições da categoria, como a Fenaj e os sindicatos, ficam esvaziadas", analisou Fernanda Viseu, jornalista do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, em Macaé, e vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro (SJPERJ). "Precisamos voltar a falar sobre ter orgulho de ser jornalista".
Alexandre concordou: "Eu tenho orgulho e tive a grande alegria de saber que minha filha, olhando meu exemplo, vai querer ser jornalista". O grupo concluiu a reunião planejando lançar uma campanha #orgulhodeserjornalista, com postagens nas redes sociais.
O Enprojor é o tema da tese que Benites desenvolve no PGCL/Uenf. "Mantemos contatos pessoais com mais de cem colegas, enviando convites e falando do projeto, mandando notícias sobre os encontros e outras atividades da pesquisa. A maioria deles é muito entusiasta, como se estivéssemos apresentando aquilo que sempre quiseram na profissão".
O próximo encontro
A previsão é que a próxima videoconferência ocorra em 23 de janeiro de 2025. Os interessados podem inscrever-se desde já pelo whatsapp (22)99832-9028.
Neste link estão notícias dos eventos anteriores:
https://www.releiturasemcomunicacao.com.br/comunidade-de-pratica-e-estudo/