Pesquisa vai mapear crise do jornalismo e propor soluções
Professores de renomadas universidades avaliam o projeto apresentado ao PGCL/Uenf
O pesquisador Marcello Riella Benites estuda sobre o mercado jornalístico desde 2013 e parte das suas investigações estão reunidas no livro "A origem da Mídia Ninja no Discurso dos jornalistas" (Editora Appris). "Enfrentamento da crise da profissão de jornalista em Macaé (RJ)" é o nome da pesquisa que Benites realiza atualmente no Programa de Pós-graduação em Cognição e Linguagem da Universidade Estadual do Norte Fluminense (PGCL/Uenf).
Marcello é jornalista concursado do Legislativo macaense e está formando uma "comunidade de pesquisa e prática" com colegas que vão discutir a tecnologia e o mercado jornalístico, a identidade e o discurso dos profissionais.
"A partir dessa discussão, queremos propor um 'jornalismo de novo tipo', conversando também com outros agentes sociais da produção jornalística, como donos de veículos, anunciantes, trabalhadores autônomos das redes sociais e, principalmente, o público da mídia", explica Marcello.
O professor da Uenf Sérgio Arruda de Moura participa do projeto. "Marcello, além de pesquisador, é um articulador dos colegas na busca de novos caminhos", afirma.
"É muito pertinente a investigação de Benites, pois aborda dificuldades como as péssimas condições de trabalho e renda diante dos fenômenos de convergência de mídias e plataformização que precarizam a profissão", diz Marcelo Kischinhevsky, professor da UFRJ.
Jacqueline Deolindo, que leciona na UFF e no Uniflu, pesquisadora de mídia no interior, acrescenta: "É um trabalho relevante para conhecermos as expectativas dos jornalistas de Macaé, que são semelhantes às de outras cidades médias e pequenas do estado".
REINVENÇÃO PROFISSIONAL
Marcello Benites sustenta que o jornalista ainda acredita que seu ofício contribui para a democracia. "É a hipótese que tentaremos verificar com a pesquisa".
O psicólogo Crisóstomo Lima do Nascimento, responsável pela disciplina Pós-Modernidade, Crise da Subjetividade e Fenomenologia no PGCL/Uenf, questiona certo romantismo nesta visão. "Mas é um trabalho corajoso, e falar nesse tema é muito importante no momento difícil que vivemos também na área da comunicação".
Segundo Fernanda Viseu, diretora do Sindicato dos Jornalistas do Estado do Rio de Janeiro e membro do Coletivo de Jornalistas de Macaé e Região, nunca foi feito um mapeamento profissional dos jornalistas da cidade.
"É de enorme importância para a nossa categoria. Teremos um espelho da realidade e poderemos propor ações assertivas para melhorias nos locais de trabalho, na qualidade de vida, e também soluções que ajudem os jornalistas a se reinventar nesse novo mundo da mídia".
ESTRATÉGIAS
A comunidade de pesquisa, formada por jornalistas, que depois se estenderá a outros agentes sociais atuantes na produção e comercialização jornalística, refletirá sobre o tema e proporá estratégias em três linhas: luta pela volta da exigência do diploma para o exercício da profissão; articulação como categoria para reivindicar direitos; reinvenção profissional, não apenas subordinada ao mercado e à tecnologia, mas que valorize o trabalhador.
"Outras linhas estratégicas serão descobertas no decorrer da pesquisa", esclarece Benites. A tese de doutorado "Tecnologia e Mercado, Identidade e Discurso: enfrentamento da crise da profissão de jornalista em Macaé (RJ)" está prevista para ser concluída em março de 2025.