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Mulheres são as grandes vitoriosas no debate da Band
Pergunta de Vera Magalhães faz Bolsonaro mostrar ódio às mulheres e à liberdade de imprensa
* Por Marcello Riella Benites
No debate presidencial da Band neste domingo (29/8), Vera Magalhães, apenas com seu patrimônio profissional, de jornalista que expõe implacavelmente os crimes de expressão e a debilidade administrativa de Jair Bolsonaro, fez o chefe do Executivo entregar, em cadeia nacional, no horário nobre, seus pontos mais fracos. O presidente odeia as mulheres e a imprensa livre. Simone Tebet, a vencedora da noite, e Soraya Thronicke foram implacáveis contra o mandatário, em defesa da colunista.
Frisamos que nossa análise se atém ao debate, sem considerações sobre os programas dos candidatos.
Vera fez pergunta a Ciro Gomes mencionando a trágica política de vacinação contra o coronavírus. Perdendo o controle emocional, ao comentar a resposta de Ciro, Bolsonaro afirmou que ela era uma "vergonha para o jornalismo". O candidato em seguida voltou o seu ataque para Tebet e concluiu dizendo "a senhora é uma vergonha para o Senado Federal. E não estou atacando mulher. Não venha com essa historinha de se vitimizar".
Depois desses ataques, Bolsonaro fracassou ao falar de sua atuação diante da pandemia. Na réplica, Ciro não captou e não repeliu à altura o que viria a ser o tema mais relevante do confronto: o desprezo pessoal do governante por todas as causas femininas.
Não adiantou Bolsonaro, mais à frente, elencar medidas que beneficiariam economicamente as mulheres de forma direta ou indireta, pois ficou patente seu desrespeito àquelas que são a maior parte da população e maior ainda do eleitorado. Muitas dessas medidas, inclusive, foram desmentidas por checagens durante e depois do encontro entre os candidatos.
Por sua vez, Lula, que teve a palavra em seguida à disputa sobre a pergunta da jornalista, perdeu a oportunidade de sair em defesa do público feminino e da liberdade de imprensa. Posteriormente, o primeiro colocado nas pesquisas solidarizou-se com Vera, numa fala discreta. Vale citar um bom momento do ex-presidente, embora fora do tema da questão feminina, quando disse a Soraya que os empregados da senadora ("o seu jardineiro e a sua empregada doméstica") souberam o que os governos do PT significaram para os pobres.
Em outro momento, Ciro passou a ser veemente sobre a misoginia de Bolsonaro, vencendo a disputa em que os dois pediram desculpas por falas machistas. Foi um dos pontos altos da noite. Lembremos. Anos atrás, o presidente disse que o nascimento de sua quarta filha, após três homens, foi "uma fraquejada" sua. E Gomes declarou, no passado, que o papel principal de Patrícia Pillar, sua mulher na época, era "dormir" com ele. O pedetista reconheceu sua cultura machista. O pedido de desculpas de Bolsonaro, entretanto, pareceu mera obediência a uma estratégia de marketing político e não reparou em nada sua postura misógina.
Emblemática também a presença no debate, da jornalista da Folha de S. Paulo Patrícia Campos Mello, embora não tenha confrontado diretamente o presidente - ela arguiu Lula e Ciro sobre apoiarem-se ou não num possível segundo turno. A repórter ganhou ação na Justiça, após ter sido caluniada pelo presidente, que afirmara ter ela oferecido sexo por informações para matéria em que o denunciava por disseminação de fake news.
Já Simone Tebet explorou bem a atuação que teve na CPI da Covid e o seu papel como alternativa a Lula e Bolsonaro. Tudo isso contribuiu para que não só Tebet, mas também Soraya Thronicke, Patrícia Campos Mello, Vera Magalhães - e com elas a imprensa livre -, e sobretudo a causa feminista e, portanto, todas as mulheres tenham sido as grandes vitoriosas no debate.
* Marcello Riella Benites, autor do livro "A origem da Mídia Ninja no discurso dos jornalistas", é membro do Coletivo de Jornalistas de Macaé (RJ) e Região e realiza a pesquisa "Enfrentamento da Crise da Profissão de Jornalista" no Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - Uenf.
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